UC e o CERN

Os investigadores da UC consideraram que o primeiro dia de funcionamento do maior e mais poderoso acelerador de partículas do mundo foi «um sucesso».

O Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) colocou pela primeira vez a circular um feixe de protões num túnel circular de 27 quilómetros a uma velocidade muito próxima à da luz foi coroada de êxito e demorou apenas uma hora.

As expectativas foram superadas no primeiro dia de trabalho daquela que é a maior máquina do mundo, o Large Hadron Collider (LHC), uma vez que foi mesmo formado um segundo feixe a concretizar uma volta completa em sentido anti-horário. O novo objectivo passa agora por colocar as partículas em rota de colisão, o que poderá acontecer nos próximos dias, caso as experiências continuem a evoluir ao ritmo actual. A aguardada recriação do “Big Bang” poderá estar então para breve. A poderosa máquina, que já custou cerca de oito mil milhões de euros, está localizada 100 metros abaixo do solo, na fronteira entre França e Suíça.

Mas o trabalho do CERN é acompanhado por cientistas associados de todo o planeta, até porque a comunidade científica acredita que as experiências podem ser as mais importantes dos últimos anos para a evolução da ciência.

Às 8h00 o Auditório do Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) já tinha as portas abertas. Lá dentro, vários investigadores acompanharam em directo todos os acontecimentos, por vídeo-conferência e por canais televisivos que transmitiram os acontecimentos. As experiências foram consideradas «um sucesso» pelos investigadores, entre os quais o docente Rui Marques e António Onofre, investigador principal do Laboratório de Instrumentação e Física de Partículas (LIP).

O objectivo para hoje era conseguir que os protões circulassem de maneira estável pelo acelerador, a uma velocidade muito menor do que aquela que será alcançada nos próximos meses, quando a máquina funcionar a «pleno vapor». O CERN espera encontrar resposta para questões como a origem da massa das partículas e do próprio Universo, o que constitui as matérias negras e a energia negra ou a eventual existência de mais dimensões para além das quatro que conhecemos hoje. A fase de experiências que ontem começou só foi possível depois de 14 anos de trabalho para construir o LHC. Para o início do funcionamento do LHC todas as peças tiveram que ser arrefecidas à temperatura de 271 graus negativos. Só este processo demorou quase um ano e meio.

O CERN acolhe actualmente cerca de 2500 pessoas, que trabalham na instituição, mas há mais de 7000 cientistas visitantes de todo o mundo que frequentam regularmente os laboratórios subterrâneos. Mas a cooperação internacional é muito mais vasta, mobilizando dez mil cientistas de 500 instituições académicas e empresas industriais espalhadas pelo planeta. O equipamento para a construção da grande máquina foi fabricado em vários países do mundo, incluindo Portugal. «Tivemos uma contribuição importante. Por exemplo, os tanques de arrefecimento foram construídos por uma empresa portuguesa», recordou Rui Marques, professor do Departamento de Física da FCTUC. O auxílio é prestado também a nível de produção científica, através do conhecimento. O próprio edifício do departamento acolhe um centro de computação com um agrupamento de 100 computadores para cálculo paralelo de alta performance, que auxiliaram na investigação. «E Coimbra já produziu três teses de doutoramento e quatro mestrados sobre o tema», afirmou António Onofre.Portugal tem mais de 100 investigadores e técnicos no CERN, a primeira organização científica internacional a que o país aderiu, em 1986. Na altura havia apenas dois doutorados em Física de Partículas, hoje são 100, 70 dos quais estão a trabalhar no LIP. «Em Portugal, e concretamente em Coimbra, trabalhamos bem e o nosso trabalho é reconhecido no CERN», concretizou António Onofre.

Fonte: Diário de Coimbra

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